A Fajã dos Tijolos é uma das diversas fajãs que compõem a impressionante paisagem da ilha de São Jorge, nos Açores. Esta fajã, como tantas outras da ilha, tem sua história marcada pelo aproveitamento dos solos férteis, pela resistência das comunidades locais e pela relação íntima dos habitantes com o mar e a terra.

Neste artigo, vamos explorar a origem, desenvolvimento, principais eventos históricos e importância cultural da Fajã dos Tijolos, destacando o papel que desempenhou ao longo dos séculos e como se apresenta nos dias de hoje.

O Que São as Fajãs?

A ilha de São Jorge é conhecida pelo seu relevo acidentado e pelas suas fajãs, que são pequenas planícies costeiras formadas por desabamentos de terras ou pelo fluxo de lava vulcânica que avançou até ao mar. Essas formações geológicas criam áreas férteis e habitáveis, permitindo o cultivo de diversos produtos agrícolas e favorecendo a instalação de pequenas comunidades.

Em São Jorge, existem mais de 70 fajãs, muitas delas habitadas e outras utilizadas para a agricultura ou como locais de lazer. A Fajã dos Tijolos é uma dessas formações que, apesar do seu nome pouco mencionado em algumas fontes históricas, desempenhou um papel na economia e na cultura local.

Origens da Fajã dos Tijolos

O nome Fajã dos Tijolos pode estar relacionado com a presença de argila e barro na região, matérias-primas utilizadas para a fabricação de tijolos e telhas. Durante os primeiros séculos da colonização açoriana, era comum que os habitantes das fajãs aproveitassem os recursos naturais disponíveis para fabricar materiais de construção, especialmente em locais onde a madeira era escassa.

Acredita-se que a fajã tenha sido ocupada por colonos desde os primórdios do povoamento da ilha, por volta do século XV, quando os primeiros portugueses chegaram a São Jorge e começaram a explorar as terras férteis junto ao mar. A proximidade da fajã com outras comunidades costeiras também pode ter favorecido a sua utilização para a agricultura e a pesca.

Desenvolvimento e Atividades Econômicas

A Produção de Tijolos e Materiais de Construção

Como o próprio nome sugere, a Fajã dos Tijolos pode ter sido um local de produção de tijolos e outros materiais de construção, aproveitando os depósitos de argila presentes no solo. Essa atividade teria sido essencial para o desenvolvimento da ilha, pois muitas construções exigiam tijolos e telhas que nem sempre estavam disponíveis em grande quantidade.

Os processos de fabricação de tijolos e telhas eram artesanais e envolviam a extração da argila, a moldagem das peças e a queima em fornos rudimentares. A produção local permitia abastecer os moradores da ilha com materiais para suas casas, igrejas e edifícios públicos.

Agricultura e Pecuária

Além da produção de tijolos, a Fajã dos Tijolos também foi utilizada para a agricultura. O solo fértil permitia o cultivo de produtos como milho, batata, feijão e vinha, além da criação de gado leiteiro, atividade muito importante na economia de São Jorge.

A pecuária leiteira, inclusive, é uma das principais bases da economia jorgense até os dias atuais, e muitas das fajãs da ilha foram tradicionalmente usadas para o pastoreio de vacas, contribuindo para a produção do famoso Queijo de São Jorge.

A Pesca e a Relação com o Mar

Como a maioria das fajãs costeiras, a Fajã dos Tijolos também teve uma forte ligação com o mar. Os habitantes locais utilizavam pequenas embarcações para a pesca artesanal, capturando peixes e mariscos que complementavam a dieta da população e serviam como fonte de renda.

A pesca era especialmente importante em épocas de dificuldades agrícolas, quando as colheitas eram afetadas por eventos climáticos ou por pragas. O mar, nesses momentos, tornava-se um recurso vital para a subsistência das comunidades.

Eventos Históricos e Catástrofes Naturais

A história das fajãs açorianas é marcada por eventos sísmicos e vulcânicos que frequentemente alteraram a paisagem e impactaram a vida das comunidades locais. A Fajã dos Tijolos não foi exceção e sofreu com os efeitos de terramotos e deslizamentos de terra ao longo dos séculos.

O Terramoto de 1757

Um dos eventos mais devastadores da história dos Açores foi o terramoto de 9 de julho de 1757, que atingiu violentamente a ilha de São Jorge. Esse sismo destruiu inúmeras fajãs e aldeias, causando deslizamentos de terra e alterando a geografia da ilha.

É provável que a Fajã dos Tijolos tenha sido afetada por esse evento, com a destruição de moradias e a possível perda de áreas agrícolas. Como em outras fajãs, muitas famílias tiveram que abandonar temporariamente a região ou reconstruir suas casas após a tragédia.

Outros Eventos Sísmicos

Ao longo dos séculos, outros eventos sísmicos e intempéries climáticas também impactaram a Fajã dos Tijolos. Muitos habitantes das fajãs açorianas, especialmente durante o século XX, optaram por se mudar para zonas mais elevadas e seguras da ilha, reduzindo a população fixa nesses locais.

A Fajã dos Tijolos nos Dias de Hoje

Atualmente, a Fajã dos Tijolos mantém sua importância como parte do patrimônio natural e cultural da ilha de São Jorge. Apesar de não ser uma das fajãs mais conhecidas ou habitadas, continua a ser um local de interesse para historiadores, geólogos e amantes da natureza.

As fajãs açorianas, incluindo a Fajã dos Tijolos, são pontos de atração para o turismo rural e ecológico. Muitos visitantes procuram essas áreas para caminhadas, fotografia de paisagens e para conhecer melhor a história e os costumes tradicionais das comunidades açorianas.

A crescente valorização do patrimônio cultural e ambiental dos Açores pode contribuir para a preservação e revitalização da Fajã dos Tijolos, incentivando a recuperação de antigas estruturas e o uso sustentável do território.

A Fajã dos Tijolos é mais uma peça importante na história e na paisagem de São Jorge. Seu nome remete à possível produção de tijolos no passado, uma atividade que pode ter sido essencial para o desenvolvimento da ilha. Ao longo dos séculos, essa fajã testemunhou eventos naturais devastadores, mas também foi um espaço de trabalho, vida e cultura para gerações de açorianos.

Hoje, mesmo que sua população tenha diminuído, a Fajã dos Tijolos continua a fazer parte da identidade de São Jorge, preservando sua história e atraindo aqueles que desejam conhecer de perto as tradições e a natureza dos Açores.